sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Afinal o que é a estratégia?

Antes de realizar a matriz dos problemas e dos respectivos objectivos, gostaria de referir algo que me parece não estar devidamente clarificado, e que está a contribuir para gerar alguma confusão.

Não me refiro à definição dos problemas e dos respectivos objectivos, mas sim à sua classificação como sendo de nível estratégico, táctico ou operacional.

Para procurar esclarecer este ponto, começo por colocar a seguinte questão:

Afinal o que é a estratégia?

Sem sequer pesquisar na net, pode-se com certeza garantir que existirão bastantes definições e com diferenças substanciais entre elas.

Na realidade, a definição de estratégia pressupõe um determinado âmbito ou enquadramento mais ou menos abrangente, para o qual se enquadra a definição.

Por exemplo, em sentido lato e num enquadramento organizacional, a estratégia pressupõe uma gestão estratégica, que por sua vez se decompõe em três vertentes: Análise estratégica, Planeamento estratégico e Execução estratégica.

· Nesta vertente, Ansoff (1990) define: “A estratégia é o conjunto de regras e directrizes para a decisão, que orientam o processo de desenvolvimento de uma organização”
· Kaplan e Norton (2000) enfatizam que: “A estratégia tem a ver com a opção” e portanto definem-na como “ o momento de fazer uma escolha”.
· Já Michael Porter afirma que: “A estratégia nunca foi tão importante como agora” e também sugere que: “Manter uma vantagem competitiva, bem como uma boa posição estratégica, é a resposta a ter face à forte competição existente no mercado”

Este conjunto de definições olham a estratégia numa perspectiva de grande abrangência, aplicando uma visão organizacional que se insere num grande mercado global e competitivo.

Por outro lado, a estratégia pode ser vista numa perspectiva lata ou específica, inserindo-se desta forma no conjunto de declarações fundamentais de qualquer organização, emanadas precisamente pela gestão da estratégia, que normalmente engloba as declarações da Missão da organização; dos seus Valores ou Princípios (não confundir com cadeia de valor); a declaração da Visão e a Estratégia para a alcançar.

Nesta perspectiva, a estratégia reduz-se à sua verdadeira essência, ou seja, define o Como fazer. Como vamos alcançar a visão?
Mas esta perspectiva da estratégia, no extremo, mais não é do que a descrição do conjunto de procedimentos a tomar para alcançar a fotografia descrita pela visão, ou seja, mais não é do que a Operacionalização da estratégia.
Antes de continuar, importa ressalvar que as declarações estratégicas fundamentais de qualquer organização, são as seguintes:

· A Missão – Trata-se da declaração mais importante de toda a organização, definindo a razão da sua existência ou o seu propósito central, e deve possuir as seguintes características (Paul Niven 2002): Ser carismática e inspiradora da mudança; ter uma natureza de longo prazo, quase intemporal e, finalmente, ser de fácil percepção e comunicável;

· Os Valores ou Princípios – Embora não seja determinante para a vantagem competitiva da organização, a declaração dos Valores é certamente uma fonte de diferenciação que rege os comportamentos e valores a preservar na cultura organizacional. É uma proclamação aberta sobre o que se espera do comportamento de todos os elementos da organização;

· A Visão – Enquanto a missão define o objectivo central da organização, a visão é uma
declaração que define para onde a organização pretende ir no futuro. É uma visão fotográfica sobre como se vê a si própria num futuro mais ou menos longínquo.
Assim, a visão caracteriza-se pelas seguintes características (Paul Niven 2002): Concisa; Abrangente a todos os Stakeholders; Consistente com a missão e os Valores; Verificável e portanto finita; Realizável e Inspiradora da mudança.

· A Estratégia – Trata-se do conjunto específico e detalhado de acções a levar a cabo para
chegar ao desejado futuro descrito pela Visão. Deste modo, a estratégia deve incluir os seguintes princípios chave: Compreensível, Com actividades diferenciadas; Com encaixe entre as actividades e com uma perspectiva de continuidade.

Conclusão:

Como se pode verificar, podemos concluir que existem vários níveis de abrangência associados à definição de estratégia.
Da mesma forma, quando classificamos um determinado problema como sendo de nível estratégico, táctico ou operacional, estamo-nos precisamente a referir ao grau de abrangência do objectivo que pretendemos atingir ao resolvermos esse mesmo problema.
Na realidade, se considerarmos o sentido restrito da definição de estratégia, ou seja, O Como vamos conseguir atingir um objectivo, todos os problemas podem ser considerados como estratégicos. Por outro lado, se considerarmos a estratégia num sentido mais lato, mas com um conjunto de objectivos definidos e alcançáveis no tempo, então pode-se dizer que os problemas se classificam em estratégicos ou operacionais. Por fim, se considerarmos a definição mais abrangente de estratégia, que tal como a declaração da Missão, se refere ao objectivo central, à linha orientadora, com carácter de longo prazo, então, aí sim, podemos classificar os nossos problemas com três níveis de abrangência:

Nível Estratégico – Tal e qual como a declaração da missão, com grande abrangência e sem limites temporais ou com concretização a longo prazo;

Nível Táctico – Tal como a declaração da Visão, trata-se de problemas com uma maior especificidade, limitados no tempo, com pistas sobre os passos a seguir, mas ainda assim, com um sentido de abrangência significativo;

Nível Operacional – Trata-se do conjunto de passos perfeitamente delineados para atingir um determinado objectivo, perfeitamente identificado, quantificado no tempo e normalmente, alcançável em período curto de tempo.

Rui Almeida Santos

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